domingo, 27 de fevereiro de 2011

Interromper a menstruação: Um método moderno e polêmico

 Toda menina sonha com o dia em que se tornará “mocinha” metáfora para a primeira menstruação e quando isso acontece ganha presentes da mãe, comemora com as amiguinhas e começa a deixar as bonecas de lado.
 
Em algumas religiões a sangria é tão bem- vinda que toda família celebra e casamentos são marcados, independente da idade da noiva. Os hábitos mudam, os interesses também. Mas esta alegria não dura muito tempo porque logo começam as cólicas, os inchaços e a terrível TPM.


Para uma mulher moderna, a menstruação só causa aborrecimentos

Com o avanço da medicina, e graças à sensibilidade de alguns médicos, se tornou possível suspender o ciclo e pôr fim ao sofrimento de todos os meses. A interrupção se dá graças a um implante hormonal colocado na região glútea da paciente. O processo é simples, pequenas doses são liberadas diariamente no organismo inibindo a ovulação e consequentemente o sangramento.
Além de tratar doenças como a endometriose e miomas, males decorrentes da ovulação, o método serve também como um excelente anticoncepcional.

Entre várias famosas que já aderiram ao não- sangramento estão a modelo Ana Hickmann e a jornalista Marília Gabriela.
Marília é fã declarada do implante e foi uma das primeiras a experimentar a técnica, que surgiu na década de 70. Durante anos ficou sem menstruar, e só tirou quando decidiu ficar grávida. Segundo ela, o método é ótimo, nunca sentiu efeito colateral e só vê vantagens em tudo isso.
Para Ana a decisão de suspender a menstruação aconteceu há 6 anos e também foi um alívio. “Sempre tive problemas com cólicas menstruais horríveis e devido a minha profissão não podia me dar ao luxo de abrir mão de trabalhos.
Foi por este motivo que me submeti ao tratamento. Não houve nenhuma alteração na minha forma física, porém o humor, por não sofrer com as terríveis dores, ficou excelente”.

Mas, apesar da alternativa ser tentadora, ainda há quem resista

Alguns profissionais da saúde são categoricamente contra, alegando que este tratamento contraria todas as leis da natureza, o que é rebatido por um dos maiores especialistas no assunto, Dr. Malcolm Montgomery. 
De acordo com o ginecologista, a menstruação nada mais é do que uma falha no sistema reprodutivo.
E portanto nenhuma mulher nos dias de hoje é obrigada a passar por todos àqueles tormentos se não estiver pensando em engravidar.

Confira a entrevista com Dr. Malcolm Montgomery

A menstruação causa desconforto, dores e contratempos, mesmo assim sempre foi vista como um atributo.

As mulheres deveriam rever este conceito?

R.
Sim, baseado em 30 anos de prática tenho segurança em afirmar que o conceito que a mulher brasileira assimilou em sua educação e os sentimentos que expressa em relação à sua menstruação vêm da cultura judaico- cristã.
São códigos de inferiorização da mulher de uma sexualidade atrelada da reprodução até a menopausa. Acredito que seja tão difícil mudar um tabu quanto tornar um político honesto.
São situações que só a educação, ao longo de gerações, vai mudar.

Cortar a menstruação não seria uma forma de agredir o corpo?

R.
Não, porque se fosse uma agressão a gravidez e a amamentação não seriam tão bem programadas pela natureza. É importante lembrar que os métodos hormonais que suspendem a ovulação e a menstruação imitam a gravidez.

Parar de menstruar não afeta o psicológico da mulher? Ela não se sente menos feminina?

R.
Vale também a resposta anterior ou seja a grande maioria das mulheres se sente plena na gravidez, femininamente completa. Hoje a suspensão da menstruação é o anseio de uma grande porcentagem das mulheres.

Há divergências entre a própria classe médica em relação aos hormônios. Qual é o principal fator que leva a essa discussão?

R.
Há divergências entre os médicos em tudo o que é técnica e cientificamente moderno no sentido de quebrar tabus. A pílula anticoncepcional foi combatida por muitos ginecologistas retrógrados durante muito tempo. Hoje é consenso.
Estudos mostram que o uso de anticoncepcionais por mais de 10 anos diminuem bastante o índice de câncer de útero e o de ovário. E temos plena convicção de que tirando a ovulação estamos protegendo também a mama.

Quais os benefícios do implante hormonal?

R.
O implante é prático pois evita o dia a dia da pílula, não tem a primeira passagem pelo estômago e fígado, e com isso suas doses são muito menores.

Existe algum efeito colateral? Já foi relatado algum caso de rejeição?

R.
Tudo na vida tem efeito colateral e na medicina não é diferente. O índice de sucesso dos implantes personificados, que é diferente do implante no braço, é de 94%. Os outros 6 % é, na minha experiência, a taxa de insucesso. Pode existir rejeição local e rejeição pelo organismo que depende da interação com outras drogas, principalmente com antidepressivos.
Os primeiros 3 meses são de adaptação e nessa fase pode haver sangramento irregular, inchaço e uma maior oleosidade na pele. Isso acontece com cerca de  10 a 15% das pacientes que colocam implante. Mas esses pequenos efeitos colaterais são resolvidos facilmente.

Há contra- indicações?

R.
Sim, as contra- indicações do implante são as mesmas da pílula anticoncepcional. Não podem usar hormônios mulheres com câncer de mama, ovário ou útero. Também não pode quem tem insuficiência no fígado, hepatite grave, e pacientes com tromboflebite profunda. Estas são contra- indicações absolutas.

Como é o formato e quais são seus componentes?

R.
Podem ser retiráveis quando o hormônio é colocado em pequenos tubos de silástico ( tipo de silicone), são de 3 a 4 cm de comprimento e 3 milímetros de espessura. Eles podem também ser biodegradáveis, não havendo necessidade de retirar no fim do seu tempo de funcionamento. Seus componentes são: progesteronas, estrogênios e androgênios.

Qual é o procedimento na colocação do implante?

R.
O procedimento é um fator limitante. Poucos médicos no Brasil têm prática e segurança na colocação e troca dos implantes. Requer anestesia local, são colocados na área superior e lateral das nádegas. A cada ano devem ser trocados de lado.

Qual é o tempo de duração no organismo?

R.
Trabalhamos com implantes de 6 meses e de 1 ano.

Uma menina que nunca menstruou pode colocar o implante para retardar o primeiro ciclo?

R.
Sim, em alguns casos podemos indicar o método como estratégia clínica de retardar a primeira menstruação. Os benefícios desse procedimento na puberdade seriam a proteção da mama e a facilitação de um crescimento de acordo com a genética da paciente. Psicologicamente meninas de 9 ou 10 anos têm dificuldade em lidar com a situação, como o manuseio do absorvente, além de gerar anemia em pacientes com sangramentos muito fortes.
A menstruação precoce pode gerar alterações como apatia, dificuldades na escola, causando repercussões  no comportamento social.
Nós muitas vezes recebemos indicações de psicólogos para suspender a menstruação de meninas muito novas, com 7 ou 8 anos de idade.

Se uma paciente com implante deseja repentinamente engravidar, ela terá de esperar por muito tempo?

R.
Os implantes anticoncepcionais também são indicados para casos de endometriose. Esses tratamentos dependem do grau da doença.
Em pacientes saudáveis no mês seguinte a retirada do implante ela já poderá engravidar, se o marido for fértil. Não podemos esquecer que uma gravidez depende de duas pessoas.

Alguns médicos têm alegado que ficar anos sem menstruar pode causar infertilidade. O que tem a dizer sobre esta afirmação?

R.
Em 16 anos colocando os implantes nunca tive nenhum caso de dificuldade para engravidar, e o nosso número de pacientes é significativo. O que pode acontecer é àquela paciente muito magra que obviamente só volta a ciclar quando engorda o suficiente para o organismo ovular.

Indicaria este tratamento para todas as mulheres?

R. O médico com experiência jamais indicaria um tratamento para todas as mulheres. Além da ciência e da tecnologia existe um ser humano com sua religião e cultura em códigos pessoais.
Quando o médico respeita tudo isso  ela aceita melhor uma contribuição tua. Também é bom lembrar que o mais importante dentro da medicina moderna é individualizar cada caso. O que eu posso assegurar é que quando bem indicado é benéfico, em nível orgânico, emocional e social.

Fonte :universodamulher

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